quinta-feira, 28 de abril de 2011

Dica Finesse do Dia - Mães e Crianças


Texto de Danuza Leão, humorado e cheio de piadinhas (polêmico até), falando sobre a aventura de educar uma criança...


Mães e crianças costumam provocar uma mistura explosiva sob todos os aspectos. Mães e crianças costumam aborrecer até a mais aveludada das criaturas. Tem quem goste de conviver com o zigue-zague emocional das mães e com o foguetório constante dos pequerruchos. Pois é. Talvez tenha sido por isso que nascemos com altas dosagens de tolerância, paciência e abnegação. Cuidado: virtudes têm limite. Mães e crianças, não.

Mães: geralmente é a vocês que cabe a educação dos filhos, sobretudo no capítulo modos à mesa, arrumação do quarto etc. Não sejam preguiçosas. Claro, é mais fácil fazer que ensinar. Mas tenham coragem, ensinem, e comecem cedo, para que os bons hábitos se tornem uma segunda natureza e não um procedimento para ter só na frente de
visitas. Seja rigorosa. Eles vão te odiar às vezes. Você vai querer esganá-los frequentemente. Faz parte, entre pessoas que se amam. Mas um belo dia alguém vai dizer o quanto seu filho é educado, prestativo, gentil, querido. Você vai desmaiar de surpresa e felicidade.

Nunca me esqueço da história daquela mãe que se dirigiu a uma especialista em boas maneiras para saber com que idade deveria colocar seu filho no curso. Ao saber que o futuro aluno estava com três meses de idade, ela respondeu: "talvez já seja muito tarde".

Não morra de vergonha se seu filho deu um vexame na frente de seus amigos. Não valorize os erros nem dê bronca em público. Nunca trate nenhuma criança como se ela fosse uma débil mental. Elas entendem tudo. Use sempre um bom vocabulário, isso aumenta a capacidade linguística das crianças. E não fique para morrer de culpa, se algum dia precisar frustrar seu filho, tipo promessa que não pôde ser cumprida etc. Apesar do que dizem os especialistas, uma frustraçãozinha de vez em quando prepara a criança para aprender a suportá-las, quando no decorrer da vida elas (infelizmente) acontecerem.

Eu adoro meus filhos. Você deve adorar os seus. Mas nem por isso a gente deve abrir a carteira e mostrar aquela foto pequenininha, em que todas as crianças são absolutamente iguais. E foto de bebês? Não vamos obrigar o nosso próximo a dizer "que gracinha", ok?

Ensine, obrigue seus filhos a cuidarem da bagunça que fazem. O copo de Coca-Cola? De volta para a cozinha. A revistinha que acabou de ler? Para o quarto. A lista não teria fim, porque a imaginação de uma criança para instalar o caos onde quer que esteja é também infinita.

Alguns mandamentos:

· não sair para se servir correndo na frente dos outros. O ideal, aliás, seria que as crianças, até uma certa idade, fizessem as refeições antes dos adultos, com as mães ao lado, patrulhando as boas maneiras.

· não deixar cair um grão de arroz sequer na mesa.

· não encher demais o prato. Se encher, que coma tudo.

· usar sempre o guardanapo.

· a partir dos cinco anos, não cortar a carne toda de uma vez. Cinco? Talvez eu tenha exagerado. Sete.

· pedir licença para se levantar quando a refeição terminar. Para evitar aquela tortura de ficar na mesa até a hora do café, um suplício.

· não bater a porta do quarto com estrondo, nem quando brigar com o irmão.

· ficar mudo, estático, dentro do elevador.

. não chamar a amiga da mãe de tia. Aliás, não chamar ninguém de tia, a não ser as tias de verdade.

· sentar à mesa devidamente penteados, mãos limpas.


Elas gostam de passar no espaço de 15 centímetros que existe entre o sofá e a mesa, brincam de pique numa sala de dois por três, colocam a cadeira na frente da televisão, se penduram nos lustres, pintam as paredes da sala, o teto etc. E tudo aos gritos. Penso que esta talvez seja a fase de maior energia do ser humano. É a idade da guerra dos travesseiros, das almofadas que voam pela janela. Jovens pais adoram essas traquinagens. Tudo bem. Mas não ache estranho se um de seus amigos não curtir tanto quanto você essa fase tão adorável de seus filhotes. Crianças são difíceis mesmo, é preciso muita paciência para aguentar o que elas frequentemente aprontam.

O problema de relacionamento entre crianças e adultos é uma questão de energia vital. Enquanto certos adultos adoram preguiçosamente prolongar uma refeição batendo papo, as crianças ficam indóceis. Se são obrigadas a ficar, começam a despejar sal na mesa, quebrar palitos e botar dentro do saleiro, mostarda na Coca-Cola etc. Daí a razão de separar as crianças dos adultos na hora das refeições.



Mas os pais combinam com alguns amigos que têm filhos mais ou menos da mesma idade, e vão enfrentar a guerra. As crianças, é claro, não se simpatizam nem se olham. Falar, nem pensar. Os adultos, já grilados, redobram as atenções, ninguém come em paz. Clima tenso. Como as crianças comem pouco e depressa, ficam impacientes para se levantar da mesa. Os pais, aliviados, concedem a permissão. Pensa que está tudo em paz? Aguarde.

O filme continua. Seis ou sete crianças se juntam imediatamente às 347 das outras mesas e começam todas a brincar no meio do restaurante. Se tiverem levado patins, skates, pranchas de surfe, melhor ainda. Fica aquela churrascaria animada, picanhas sangrando nas camisas dos guris, gritos lancinantes, algazarra geral. Um garçom não muito paciente poderia até assassinar uma delas com o espeto. Perigoso e nada impossível. Mas uma das crianças não enturmou, nem nessa hora. Vai ficar na mesa, com a cabeça recostada, dizendo, de dois em dois minutos, "quero ir pra casa". E torna a repetir, bem devagarzinho, "quero ir pra casa". Resultado: desestabilização emocional de todos os presentes.

Bom, por que falei tudo isso? Simples. Para que todos compreendam, numa boa, que juntar crianças com adultos não costuma dar pé, que isso é natural e não há por que dramatizar.

Em compensação, na frente dos netos, faça tudo o que não deve - e muito mais. Netos costumam adorar avós - digamos - fora dos padrões. É que eles sabem que vão poder contar com elas como fortes aliadas, nas crises de caretice dos pais. Cruel? Não, apenas verdade. E mais. Isso é que faz o equilíbrio da vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

VIPs opinaram