
Daí que naquele dia, sem motivo algum, ela resolveu fazer um caminho diferente de volta para casa. E eis que de repente começou a sentir uma dor estranha no pé. Quando olhou seu sapato, reparou que estava arrebentado e por isso ela estava pisando diretamente no asfalto. Passou por uma esquina e pensou em ligar para ele buscá-la. Foi aí que achou uma estante de vime ao lado de uma caçamba de lixo. Grande. Bonita. Em excelente estado. Admirou-a. Voltou a pensar que precisava ligar. Achou um orelhão do outro lado da rua. Ligou.
- Amor, meu sapato arrebentou e não tô conseguindo andar... vem me buscar?
- Onde você está?
- Em frente à confeitaria perto do trabalho.
- Ok, espera uns dez minutos que eu já chego aí.
Enquanto a conversa se desenrolava, um gari passou pela caçamba, do outro lado da rua. Parou e olhou a estante. Como ele ousava? ELA tinha visto primeiro. Parou, analisou e continuou caminhando, olhando para a estante de vez em quando.
Em seguida duas senhoras passaram. Olharam a estante. Comentaram sobre ela. Pararam. Demoraram para ir embora...Arrrrrrghhhh!
Mas enfim se foram.
Então ela desligou e saiu do orelhão, voando como um raio (na verdade mancando, mas vamos poetizar) em direção à caçamba. Montou guarda ao lado da estante. Rosnava e mostrava os dentes aos transeuntes. Ninguém pegaria a estante. Ninguém. E os minutos se passaram.
Então ele chegou. Parou o carro perto do orelhão. Ela acenou e pediu para ele estacionar mais perto. Ele fez um gesto de "venha logo".
E agora? Como ela poderia deixar a estante ali sozinha por dois minutos?
Mas como não tinha outro jeito, foi.
- Amor, olha lá aquela estante, jogaram fora...e tá novinha!
- Que estante?
- Ali, do lado da caçamba!
- Ah...
- Vai lá ver, tá linda, novinha, é perfeita pro nosso escritório.
- Se jogaram fora, deve estar com ovos de cupim.
- Mas é de vime. Palha. Cupim come palha?
- Ou ovos de barata...
- Vai lá ver...
- Tá bom, tá bom...
E ele se aproximou da estante. Parou, olhou, jogou seu peso contra as prateleiras. Mas ela resistiu bravamente e pediu para ser levada. Em um minuto, ele já estava com a teteia a tiracolo. Era preciso amarrar no carro.
- A gente precisa amarrar porque não cabe no porta-mala.
- Você não tem barbante aí?
- Não.
- Usa o cadarço do tênis!
E ele tira o cadarço, amarra a estante, rumam para casa e...
Olha que biita ficou no escritório, guardando os projetos dele!!!
Moral da história: sapato que fura é um prenúncio de coisas boas...rs
Há males que vêm para bem. Porque Deus tem sempre a capacidade de converter situações desconfortáveis em bênçãos.
O sapato? Foi pro lixo.
E não, não existem ovos de barata nem de cupim na estante...
Há pessoas que veem quantas sementes existem em uma maçã. Há outras que veem quantas maçãs existem em cada semente.